A Estrada do Silêncio

A Estrada do Silêncio

A chuva caía fina e persistente sobre o asfalto rachado da Estrada 47, uma via esquecida que serpenteava por entre montanhas escuras e florestas densas. Os faróis do carro cortavam a névoa como lâminas, quando Davi — um homem de olhar sereno, barba por fazer e alma marcada por segredos — viu uma figura solitária caminhando na beira da estrada.

Ela usava um casaco pesado, o capuz ocultando parte do rosto, mas Davi pôde ver seus olhos: tristes, vazios, como se já tivessem desistido. Parou o carro. “Precisa de ajuda?”, perguntou com cautela.

A mulher hesitou, depois assentiu. “Meu nome é Helena.”


Capítulo 1: Cacos de Esperança

Davi levou Helena até uma pensão modesta na pequena cidade de Vale Escuro. Nos dias seguintes, ele descobriu que Helena carregava um peso invisível. Ela havia fugido do ex-marido, Augusto, um homem violento e manipulador que a isolara durante anos. Seu filho, Lucas, desaparecera misteriosamente cinco anos antes, aos oito anos. O caso nunca fora resolvido.

Davi, embora marcado por um passado que evitava mencionar — uma vida que deixou para trás após perder sua irmã em circunstâncias estranhas —, se sentiu compelido a ajudá-la. Em meio a conversas noturnas e caminhadas silenciosas, nasceu entre eles algo raro: confiança.


Capítulo 2: Ecos do Passado

Helena começou a ter pesadelos — memórias fragmentadas de gritos, portas trancadas, e do dia em que Lucas desapareceu. Em flashbacks sombrios, via-se tentando abrir uma porta trancada enquanto o filho gritava do outro lado. Mas havia algo errado… havia alguém com ela naquele dia. Alguém que a ajudou a esquecer.

Davi encontrou um jornal velho no porão da pensão com a manchete: “Menino desaparece misteriosamente em fazenda abandonada.” O local ficava a apenas 30 km dali.

Eles decidiram investigar.


Capítulo 3: A Fazenda dos Sussurros

A fazenda estava em ruínas, mas ainda respirava o cheiro do medo. No porão, encontraram desenhos de criança nas paredes e brinquedos espalhados. Um deles, um urso azul com um rasgo no peito, Helena reconheceu. Era de Lucas.

Davi começou a suspeitar que Augusto estivera envolvido. Mas por quê? E onde estava Lucas?

Durante a busca, um velho diário foi encontrado embaixo do assoalho. Era de Helena. Mas as páginas haviam sido rasgadas. As poucas que restavam revelavam uma verdade inquietante: ela sofrera choques, manipulação química e apagamentos de memória — tudo sob orientação de alguém próximo.


Capítulo 4: O Retorno de Augusto

O reencontro com Augusto foi inevitável. Ele apareceu no vilarejo como um vulto do passado, frio e imponente. Disse estar ali “para levar o que é dele de volta”. Helena congelou. Davi a protegeu, mas Augusto parecia sempre um passo à frente.

Foi então que Augusto revelou: “Você nunca perdeu seu filho. Você o deu para mim.”

Helena, devastada, lembrou-se vagamente de assinar papéis em um hospital psiquiátrico. Seu olhar ficou vidrado. Augusto sorria.


Capítulo 5: O Confronto

Davi e Helena rastrearam os passos de Augusto até uma escola de reabilitação para órfãos. Ali encontraram um adolescente com os olhos de Helena. Lucas. Mas ele não lembrava de nada. Havia sido adotado por outra família, com novo nome, nova vida.

Quando tentaram tirá-lo de lá, Augusto apareceu armado.

A tensão explodiu em um confronto no meio da floresta. Palavras cortantes foram ditas. Davi enfrentou Augusto em uma luta brutal. Durante a briga, Augusto revelou o segredo final:

“Você não é quem pensa que é, Davi. Você me ajudou. Você estava lá naquela noite. Você foi pago para apagar as memórias dela.”

Davi congelou. A lembrança voltou como uma lâmina: ele era um enfermeiro, pago por Augusto anos atrás para administrar drogas que apagariam a memória de Helena. Ele se rebelou depois, abandonou tudo… mas nunca esqueceu o que fez.


Capítulo Final: Silêncio nas Montanhas

Davi hesitou, mas no instante seguinte protegeu Helena de um disparo. Augusto morreu com um último sorriso cínico nos lábios. Davi, ferido, confessou tudo a Helena. Ela chorou. Gritou. E depois o perdoou.

Lucas foi levado para longe, com a promessa de liberdade.

Davi desapareceu da cidade na mesma estrada onde tudo começou. Helena nunca mais o viu, mas às vezes, ao acordar de um sonho tranquilo, jurava ouvir o som de passos suaves na varanda.


Epílogo:

Anos depois, Lucas, agora adulto, encontrou um envelope com uma carta e um medalhão com uma foto antiga: a mãe sorrindo, e ao fundo, um homem de barba por fazer. A carta dizia:

“Perdoar não é esquecer. É escolher seguir. Cuide dela. Ela merece luz.”

O medalhão tinha uma inscrição: “A verdade é a estrada mais longa, mas é a única que leva para casa.”

Autor Vagner dias

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