Fronteiras do Destino Quando o amor cruza limites, o inesperado se revela
O sol filtrava-se pelas copas das árvores do Parque Nacional do Iguaçu, dançando sobre a trilha de pedras que levava às impressionantes cataratas. O som das águas caindo era quase hipnótico, mas não mais que os pensamentos de Lucas, um homem de trinta e poucos anos que viajava sozinho, em busca de algo que nem sabia ao certo. Paz? Aventura? Ou apenas um reencontro consigo mesmo?
Foi ali, no coração da natureza selvagem,
que ele tomou uma decisão impulsiva: cruzar a fronteira até Ciudad del Este, no Paraguai.
A cidade era um caos vibrante de camelôs, barracas coloridas, gritos de vendedores e turistas apressados. Em meio à multidão, algo o fez parar: uma moça, morena, com um sorriso encantador e olhos profundos, organizava pulseiras sobre uma banca improvisada. Ela parecia alheia ao tumulto ao redor.
— São lindas… — disse Lucas, apontando para os acessórios, tentando puxar conversa.
— Obrigada! Eu mesma faço — respondeu ela, sorrindo.
— Você é casada? — perguntou, meio sem jeito, depois de alguns minutos de papo.
— Ainda não… — respondeu com um olhar brincalhão. — Mas parece que estou esperando a pergunta certa.
O nome dela era Clara. Entre brincadeiras e olhares, Lucas sentiu que havia encontrado algo raro. O clima era leve, quase mágico.
Mas então, a realidade deu uma guinada inesperada.
Do lado da barraca, uma jovem se aproximou carregando caixas com brincos. Lucas sentiu o corpo congelar. Era idêntica a Clara. O mesmo rosto, a mesma voz. Mas havia algo mais sombrio e misterioso em seu olhar.
— Mana, me ajuda aqui com essas peças? — disse a recém-chegada.
— Já vou! Mas conversa com esse rapaz aqui, ele tá todo interessado — respondeu Clara, piscando para Lucas.
A irmã gêmea — Luna — olhou para ele e sorriu timidamente.
Lucas, em choque, murmurou:
— Você não vai acreditar… mas eu sonhei com você.
Luna franziu a testa, riu nervosa, e respondeu:
— Que coincidência estranha…
Nos dias seguintes, Lucas passou a visitar o camelô com frequência. A conexão com Clara cresceu rápido, e o namoro começou. Ela era apaixonante, cheia de vida e de desejos. Mas Lucas nunca conseguiu tirar Luna da cabeça.
Com o tempo, o comportamento de Clara mudou. Tornou-se mais distante, inquieta. Até que um dia, ela sumiu. Deixou apenas uma carta:
“Lucas, você foi especial. Mas meu coração pertence a outro. Me perdoa por não ser o que você esperava.”
Lucas afundou-se na dor. Sentia-se enganado, vazio, perdido.
Mas o destino ainda não havia dado sua cartada final.
Foi Luna quem o encontrou, sentado sozinho num banco do Parque Iguaçu. Ela se sentou ao seu lado em silêncio, como quem entende a dor sem precisar perguntar.
— Eu sempre soube que você era diferente, Lucas — disse ela, suavemente. — Mas nem todo caminho certo começa com o passo certo.
A amizade floresceu.
E, aos poucos, a dor foi dando lugar a algo novo. Luna era tudo o que Clara não foi: estabilidade, ternura, verdade. O amor nasceu sem pressa, mas com raízes profundas.
Anos depois, Lucas e Luna se casaram sob o pôr do sol, com as cataratas ao fundo como testemunhas. Clara nunca mais foi vista. Teria sido real? Ou apenas um prenúncio do que viria?
Lucas nunca soube. Mas entendeu, enfim, que a vida nem sempre segue uma linha reta — às vezes, é preciso atravessar fronteiras para encontrar o verdadeiro destino.
Autor: Vagner Dias