Autora: (Vagner Dias)
Capítulo 1 – O Convite
A última coisa que eu esperava naquele mês de março era que minha vida mudaria completamente por causa de uma viagem despretensiosa. Era só uma visita rápida a minha mãe em Curitiba, uma pausa da rotina sufocante ao lado de um marido ausente, seco, previsível.
“Você precisa descansar, filha. Venha passar uns dias aqui comigo”, dizia minha mãe, com aquele tom doce de quem já sabia que eu precisava mais do que descanso: eu precisava reencontrar a mim mesma.
Aceitei o convite.
Mal sabia eu que, ao pisar naquela cidade fria e elegante, meu coração também passaria por um degelo.
Capítulo 2 – A Chegada
Curitiba me recebeu com céu nublado e cheiro de pinhão no ar. Meu coração ainda batia no ritmo das obrigações, dos horários do meu marido, das cobranças silenciosas de um casamento que há tempos não dizia mais nada.
Minha mãe me esperava com um sorriso que só as mães têm. Ela morava no bairro Batel, perto de um café charmoso que eu sempre quis conhecer, mas nunca tive tempo. Ela dizia: “Vamos tomar um café lá amanhã, você vai gostar.”
Eu não imaginava que era ali que tudo começaria.
Capítulo 3 – O Café do Destino
Naquela manhã, eu me vesti sem pressa. Coloquei uma blusa azul-marinho, um jeans confortável e deixei o cabelo solto, como fazia nos tempos em que ainda sorria com o coração.
No café, pedi um capuccino. E foi quando ele entrou.
Alto, barba por fazer, olhar sereno. Vestia um casaco cinza e falava com o garçom como quem já conhecia cada canto daquele lugar. Sentou-se na mesa ao lado. Pegou um livro. E olhou pra mim.
Só uma olhada. Mas bastou.
Capítulo 4 – Conversas e Silêncios
Ele se chamava Henrique. Era arquiteto. E curitibano nato. Tinha aquele jeito reservado, mas quando sorria, o tempo parecia desacelerar.
Conversamos sobre livros, sobre cafés, sobre os invernos curitibanos. Sobre tudo que eu já não conversava com meu marido há anos. Ele ouvia. Ele perguntava. E principalmente: ele me enxergava.
Saí daquele café com uma sensação estranha. Culpa? Talvez. Desejo? Com certeza. Mas acima de tudo: confusão.
Capítulo 5 – O Beijo e o Abismo
Nos vimos mais duas vezes. Na terceira, aconteceu. O beijo. A rendição.
Na calçada molhada pela chuva fina, ele me puxou suavemente, com mãos que tremiam como as minhas. E me beijou.
Naquele beijo, eu entendi tudo que me faltava. Tudo que meu casamento não era. Tudo que eu me neguei a admitir.
Voltei pra casa da minha mãe com o coração em guerra.
Capítulo 6 – A Decisão
Naquela noite, liguei para o meu marido. E, pela primeira vez, falei tudo: sobre o vazio, a dor da indiferença, sobre mim.
Ele ficou em silêncio. Longo silêncio. E disse apenas: “Se essa é sua decisão, respeito.”
No dia seguinte, Henrique me esperava na mesma mesa do café. Quando me viu, se levantou. Não disse nada. Mas me abraçou como quem entende. E eu soube: aquele era o começo da minha nova vida.
Epílogo – Curitiba, Minha Nova História
Fiquei em Curitiba. Reconstruí minha vida, peça por peça. Com Henrique. Com amor. Com coragem.
Não foi fácil. Nada que vale a pena é. Mas foi verdadeiro.
E tudo começou num café, num dia nublado, numa cidade que me devolveu a mim mesma.